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A um metro... no Metrô


São Paulo. Estação Paraíso. O metrô pára. Com minha prima de Salvador, entro no vagão, empurrada por uma multidão apressada. Soa o sinal e a porta se fecha. Quem está ali dentro corre na velocidade do trem. Um homem, mal vestido, com a barba por fazer, grita palavras desconexas, enquanto bate na porta. A moça, o executivo, a senhora, o velho e outros que se espremiam ali se olham, com ar de desprezo ao homem de sandálias. Outros nem olham, apenas pensam calados: “deve ser um doente mental, deve estar pedindo dinheiro”. Ninguém diz nada, muito menos se importa com o louco. Ele continua a gritar.

Aproximo-me dele, olho nos seus olhos e tento entender o que diz seu desespero: “Minha muié, minha muié!!” Pergunto: “O que tem sua mulher?” Ele continua a gritar, enquanto tento decifrar: “Nunca mais vou ver minha muié!” Continuo: “Calma, senhor, o que aconteceu?” “A porta fechou eu entrei ela ficou ela vai se perder ela é doente nunca mais vou ver minha muié!! A porta fechou eu entrei ela ficou ela vai se perder ela é doente nunca mais vou ver minha muié!!” Ele se repetia, falava sem respirar e chorava sem sair lágrimas. Pedi calma a ele, segurei sua mão e prometi (escondendo meu próprio desespero ao pensar que se a mulher embarcasse no próximo trem era possível que eles se perdessem para sempre): “Venha comigo, fique calmo, nós vamos achar sua mulher”. Minha prima me repreendeu: “Denise, não faça isso!” Respondi brava: “É claro que eu faço”. Desci com o homem na próxima estação. Ela nos seguiu. Levei o senhor à administração do metrô, expliquei o ocorrido, pedi que eles localizassem a mulher e a mantivessem parada na última estação. O senhor me abraçava e dizia: “Brigado, mia fia, você vai me ajudar a encontra minha muié, ela tá com a blusa rosa da cor da sua, igualzim.” Calça verde, bolsa preta. Eu ia passando a informação para o funcionário do metrô, que me disse: “Você pode ir, eu cuido disso.” Recusei: “Não, não vou embora enquanto ele não a encontrar.” Perguntei ao funcionário, sem deixar o senhor ouvir: “O que acontece se a mulher dele embarcar no próximo trem achando que vai achar o marido dela dentro do vagão?” O funcionário: “Aí não posso fazer nada!” Eu: “Mas tem que haver algum jeito, fechar as saídas do metrô para localizá-la. Ela nem deve saber ler, não sabe andar sozinha, pode se perder dele para sempre.” Ele: “Não posso fazer nada!!” Nessa hora deixei escapar lágrimas e enxuguei rápido para que o senhor não visse. Pedi para ele ficar com o funcionário porque eu ia voltar à última estação para achar sua mulher. Corri! Minha prima corria atrás de mim. Os segundos pareciam eternos. Um trem nunca demorou tanto!! O metrô chegou, entramos no vagão, mudas. Descemos no Paraíso e pedi para ela procurar no lado oposto ao que eu ia. Depois de uns 7 minutos correndo pela estação, lá vi a mulher, chorando muito, sendo levada por um funcionário à cabine do Metrô. Chorando, falei com ela, sem respirar: “Minha senhora pelo amor de Deus não se desgrude do seu marido ele te ama muito ficou desesperado por ter te perdido ele está na próxima estação vocês já vão se encontrar fique aqui”. Ela me abraçava, chorava e agradecia, enquanto o funcionário do Metrô fazia uma piadinha infeliz: “Se eu tivesse perdido minha mulher, ia achar é bom.”

Segui meu caminho, aliviada, mas levando bronca da minha prima. Ela me explicou o motivo: eu não poderia ter feito isso porque se eu não encontrasse a mulher o senhor iria me culpar. Nem pensei nisso, eu só não via como fazer diferente. Eles poderiam ter perdido a única coisa boa que havia na vida deles: ter um ao outro. Eles se perderam no Paraíso e, felizmente, se reencontraram no Paraíso. Não vi a cena do reencontro, nem precisava, acho que já tinha feito alguma coisa pelo final feliz. Est história sempre anda comigo de metrô. E, a cada porta fechada, sigo pensando que este foi apenas um caso entre milhares que devem acontecer sempre. Fico imaginando como as pessoas menos esclarecidas sobrevivem nessa selva de pedra, feita de gente robô, trens velozes e portas furiosas.


Denise Barra

Comments

Anonymous said…
Denise, sou admirador do seu talento profissional e da sua simpatia desde os tempos da Rede Minas (lembra da mensagem poética de fim de ano que lhe enviei, a qual você respondeu com prontidão, agradecida?). Porém, só vim conhecer seu talento poético e sua imensurável grandeza humana agora, através do seu Blog. Confesso que estou fascinado, e gostaria de lhe agradecer por proporcionar a mim e a tantos, creio, esse alento de luz em tempos de tantas trevas. Parabéns linda! Que você possa brilhar por muitos e muitos anos-luz.
Anonymous said…
email.
basta.
Anonymous said…
"Vai tua vida, teu caminho é de paz e amor
A tua vida é uma linda cançaõ de amor
Abre teus braços e canta a última esperança
A esperança divina de amar em paz..."
Só um Jobim/Vinicius prá descrever o que senti lendo este post.
Taís Gomes said…
Denise querida ... Essa história me emocionou também!! Quero aproveitar e lhe parabenizar pela pessoa que é, além de excelente profissional, seu carisma, sua simpatia ... Pelo seu blog já deu pra perceber o quanto é querida!! Te desejo muito sucesso, muitas conquistas e acima de tudo, muita paz em sua vida!! BjS

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