Como dói pensar que não tenho tempo nem para escrever meus poemas e devaneios que tanto prazer me dão... Nos últimos tempos não me sobra tempo para fazer as unhas, ligar para as amigas, visitar meus pais, ir ao médico, malhar, estudar novas línguas. Coisas que fazem parte da vida, mas na minha vida presente viraram passado. Tudo o que tenho feito e pensado é para e sobre meu trabalho. Até nos sonhos (e nos pesadelos) as matérias, personagens, horários, fitas e textos aparecem na minha mente, atordoando minha paz.
O que também não sai da minha mente é se tudo isso vale a pena. Não tenho dúvidas sobre o quanto amo meu trabalho, sobre o quanto me empenho a cada dia. Tento levar aos outros uma mistura balanceada de informação e diversão. Não faço meu trabalho pensando no que meu chefe vai achar, no quanto eu vou aparecer ou se o editor vai cortar alguma sonora. Sempre procuro extrair do entrevistado a essência que ele traz. E não páro de pensar em quem está em casa. Toda vez que gravo, escrevo, planejo perguntas e peço imagens ao cinegrafista tento trazer quem está do outro lado para o meu lado. Quero que cada um tenha a impressão de ter estado lá, de ter aprendido algo novo, de ter parado para pensar no que nunca pensou. É claro que cada tema de matéria tem sua peculiaridade. Há matérias em que os personagens e as histórias são tão fortes que deixam tudo interessante. São bons o bastante para andarem sozinhos. Há outras em que o que importa não é tanto o que se diz, mas as imagens, que podem descrever mais do que as letras. Em outras (e na maioria delas em se tratando de matérias de produção) o que vale é a criação do repórter, a criatividade em cada linha, a espontaneidade em cada pergunta, o roteiro que sai do comum e a costura bem feita, artesanalmente. Mas quando se trabalha em demasia as possibilidades de enriquecer a matéria se perdem na pressa, se esgotam num corpo cansado e numa mente quente de correria e trabalho.
Tudo o que quero é informar divertindo, com pitadas suaves de poesia e arte! Para isso, preciso ter minha alma presente e sã, aberta ao inesperado, ao não revelado, ver com ouvidos precisos e ouvir com olhos virgens. Enquanto não temo tempestades e me jogo na tormenta, rezo por mares mais calmos e serenos, que façam refletir e admirar a beleza desse mundo azul. E ele gira...
D/
Comments
Quando diz: " Tudo o que quero é informar divertindo, com pitadas suaves de poesia e arte! Para isso, preciso ter minha alma presente e sã, aberta ao inesperado, ao não revelado, ver com ouvidos precisos e ouvir com olhos virgens".
Tenho certeza que vai conseguir isso aí onde está (mesmo o formato e emissora as vezes não permitindo ou em qualquer outro lugar. Acho isso porque vc naturalmente consegue isso com suas ferramentas e pouco tempo que tem.
Nesses momentos que consegue parar me liga e vamos falar sobre isso, tentar tirar projetos da gaveta...inventar outros. Pra quem, não sei mas temos que fazer....eu quero muito trabalhar com coisa legal, a gente merece...todo mundo que tem paixão pelo que faz!
Boa sorte!