Quem acha que eu perco minha credibilidade se fizer comercial de TV levante a mão!!
Há poucos anos eu levantava a bandeira de Che Guevara e Marx, lutava pela democratização da comunicação, pela imparcialidade jornalística, pela notícia dura, cheia de informações e sem nada de entretenimento... Minha visão sobre televisão e jornalismo foi se transformando, depois de 12 anos das mais diversas e inúmeras experiências.
Mulheres que eu admiro já se renderam: Gabi é Gabi e vende Vivo. E olha que ela já fez até comercial de óleo de cozinha, em que fingia cozinhar vendo a foto do Gianecchini no porta-retratos! Perdeu audiência ou seriedade em suas entrevistas por isso? Aposto que não. Paulo Henrique Amorim já se rendeu aos filmes publicitários. Lorena Calábria faz comerciais, principalmente se forem veiculados fora de SP. Eu mesma já vi com meus olhos curiosos um filme de uma faculdade de Maceió protagonizado por ela. E há muitos outros nomes que eu nem preciso citar, até mesmo de profissionais que trabalham comigo. Em 2003, Joelmir Beting chegou a perder sua coluna no jornal após fazer um comercial do Bradesco. Precisavam ser tão radicais?
Eu tenho sido chamada constantemente a fazer comerciais de TV. Não sou repórter de jornal, não faço matérias factuais, de política, economia, polícia, nem pretendo fazer. Trabalho em um programa do departamento artístico, com matérias leves, de comportamento, sempre bem produzidas e muitas vezes, divertidas.
Acho que meu trabalho como repórter deve ser avaliado durante uma matéria e não durante um comercial. Acho que devem dizer se sou boa repórter analisando meu texto, minha criatividade nas passagens, entrevistas e roteiro e não pelo fato de eu fazer um comercial de 30 segundos que será veiculado apenas durante 1 mês.
A publicidade oferece altíssimas quantias como cachê. Por cerca de quatro horas de filmagem, me oferecem de duas vezes a quatro vezes mais do que meu salário suado, trabalhado em 10, 12 horas diárias, em 22 dias no mês. Recusar como?
Adoro os teóricos da comunicação, mas eles não pagam contas no Brasil de hoje. E também não há pesquisa alguma que prove que o telespectador deixa de confiar no trabalho de quem faz comercial. Se isto fosse comprovado, eu seria a primeira a não querer fazer. No caso de jornalistas de programas como o meu pode ser até que a imagem se fortaleça junto ao telespectador. Quem disse que não? Que façam as pesquisas! Nesse tipo de programa, há até uma tendência em se super valorizar atrizes que agora atuam como "repórteres", como chamarizes de audiência (o que nem é sempre real). Elas que já fizeram cenas de ficção das mais variadas, com e sem roupa, transitam para a realidade ao fazer matérias e se dizem com credibilidade. O que é credibilidade afinal?
Sou formada em publicidade, jornalismo e design gráfico e agora tenho que pagar todo o ônus de ser repórter, com altas cargas de trabalho e pouco retorno financeiro. Ser jornalista é doar a alma sem receber por ela. Até quando? Sou quase obrigada a escolher apenas uma atividade: o jornalismo (como se eu não fosse múltipla) por causa de pura retórica sem fundamento... Sempre fui apresentadora, sempre fiz comerciais e não reclamo por ser repórter, amo todas as nuances de minha profissão. Agora, se meu conteúdo adquirido com três formações superiores vale muito menos do que 30 segundos de interpretação num comercial, que venham os comerciais, com seus produtos e marcas de qualidade! Só os com boa qualidade, claro. Não faria nunca como o Cesár Filho, que apresenta um JORNAL (aí sim, na bancada a seriedade está em primeiro lugar) e faz comercial de lojas Marabraz (o que pode associá-lo a uma marca que não prima pela qualidade).
E viva o capitalismo! Blerg!!
Comments
Não perde nada não, já conversamos sobre isso, deixa de se preocupar, porque sua competência já está mais do que provada, e mesmo que não estivesse, duvido que quem critique você por isso vá pagar suas contas, portanto que vão todos à m.
Beijo!