Adorei o filme Pan-Cinema Permante, sobre o poeta baiano Waly Salomão. Ele que via a vida como ficção, tem letras lindas cantadas por feras da MPB. Lindo o jeito dele criar "máscaras sobre máscaras" para colorir a rotina. Pensar a realidade como num grande e eterno palco torna tudo mais fácil, afinal se vivemos papéis... papéis não podem ser levados tão a sério.
Melhor ainda ver o filme no Espaço Unibanco do Shopping Bourbon. Nunca vi cinema mais confortável! Na sala 10 tem um sofá gigante super gostoso cheio de almofadas. Assisti ao filme deitada, praticamente como se estivesse na sala da minha casa. E como público de shopping raramente vê filmes nesse estilo, as salas vivem vazias, dá pra comprar 5 minutos antes do filme começar. Ontem a sala de cinema tinha apenas 5 pessoas.
Demais!
A poesia que mais gostei do filme é esta, exatamente sobre poesia:
Por que a poesia tem que se confinar
às paredes de dentro da vulva do poema?
Por que proibir à poesia
estourar os limites do grelo
da greta
da gruta
e se espraiar além da grade
do sol nascido quadrado?
Por que a poesia tem que se sustentar
de pé, cartesiana milícia enfileirada,
obediente filha da pauta?
Por que a poesia não pode ficar de quatro
e se agachar e se esgueirar
para gozar
– carpe diem! –
fora da zona da página?
Por que a poesia de rabo presos
em poder se operar
e, operada,
polimórfica e perversa,
não pode travestir-se
com os clitóris e balangandãs da lira?
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